Uma matriz quadradada de ordem diz-se invertível se existir uma matriz , quadrada de ordem , para a qual
A matriz do teorema, caso exista, diz-se a inversa de e representa-se por .
Por exemplo, a matriz não é invertível. Por absurdo, suponha que existe , de ordem 2, tal que . A matriz é então da forma . Ora , que por sua vez iguala , implicando por sua vez e , juntamente com e .
Octave
Considere a matriz real de ordem 2 definida por
. Esta matriz é invertível. Mais adiante, forneceremos formas de averiguação da invertibilidade de uma matriz, bem como algoritmos para calcular a inversa. Por enquanto, deixemos o Octave fazer esses cálculos, sem quaisquer justificações:
> A=[1,2;2,3]; > X=inv(A) X = -3 2 2 -1Ou seja, . Façamos a verificação de que :
> A*X ans = 1 0 0 1 > X*A ans = 1 0 0 1Uma forma um pouco mais rebuscada é a utilização de um operador boleano para se aferir da veracidade das igualdades. Antes de nos aventurarmos nesse campo, e sem pretender deviarmo-nos do contexto, atribua a e a os valores e , respectivamente:
> a=2;b=3;Suponha agora que se pretende saber se os quadrados de e de são iguais. Em linguagem matemática, tal seria descrito por . Como é óbvio, no Octave tal seria sujeito de dupla significação: o símbolo = refere-se a uma atribuição à variável ou parte de uma proposição? Como vimos anteriormente, = tem sido repetidamente usado como símbolo de atribuição (como por exemplo em a=2); se se pretende considerar = enquanto símbolo de uma proposição, então usa-se ==. O resultado será 1 se a proposição é verdadeira e 0 caso contrário. Por exemplo,
> a^2==b^2 ans = 0 > a^2!=b^2 ans = 1Usou-se2.1 != para indicar .
Voltemos então ao nosso exemplo com as matrizes. Recorde que se pretende averiguar sobre a igualdade . O Octave tem uma função pré-definida que constrói a matriz identidade de ordem : eye(n). Por exemplo, a matriz é obtida com
> eye(3) ans = 1 0 0 0 1 0 0 0 1
Portanto, a verificação de é feita com:
> A*X==eye(2) ans = 1 1 1 1A resposta veio em forma de tabela : cada entrada indica o valor boleano da igualdade componente a componente. Suponha que as matrizes têm ordem suficientemente grande por forma a tornar a detecção de um 0 morosa e sujeita a erros. Uma alternativa será fazer
> all(all(A*X==eye(2))) ans = 1
Ou seja, o produto de matrizes invertíveis é de novo uma matriz invertível, e iguala o produto das respectivas inversas por ordem inversa.
Duas matrizes e , do mesmo tipo, dizem-se equivalentes, e denota-se por , se existirem matrizes invertíveis para as quais . Repare que se então , já que se , com invertíveis, então também . Pelo teorema anterior, se então é invertível se e só se é invertível.
As matrizes e são equivalentes por linhas se existir invertível tal que . É óbvio que se duas matrizes e são equivalentes por linhas, então são equivalentes, ou seja, .
Se uma matriz for invertível, então a sua transposta também é invertível e . A prova é imediata, bastando para tal verificar que satisfaz as condições de inversa, seguindo o resultado pela unicidade.
Segue também pela unicidade da inversa que
Octave
Façamos a verificação desta propriedade com a matriz
:
> B=A'; > inv(A')==(inv(A))' ans = 1 1 1 1
Vimos, atrás, que o produto de matrizes triangulares inferiores [resp. superiores] é de novo uma matriz triangular inferior [resp. superior]. O que podemos dizer em relação à inversa, caso exista?
Antes de efectuarmos a demonstração, vejamos a que se reduz o resultado para matrizes (quadradas) de ordem de 2, triangulares inferiores. Seja, então, , que assumimos invertível. Portanto, existem para os quais , donde segue, em particular, que , e portanto e . Assim, como e tem-se que . Ou seja, a inversa é triangular inferior. Como , o produto da segunda linha de com a segunda coluna da sua inversa é , que iguala . Portanto, e . O produto da segunda linha de com a primeira coluna da sua inversa é , que iguala . Ou seja, .
A prova é feita por indução no número de linhas das matrizes quadradas.
Para o resultado é trivial. Assuma, agora, que as matrizes de ordem triangulares inferiores invertíveis são exactamente aquelas que têm elementos diagonais não nulos. Seja uma matriz triangular inferior, quadrada de ordem . Particione-se a matriz por blocos da forma seguinte:
Por um lado, se é invertível então existe inversa de , com , . Logo e portanto e . Assim, como e tem-se que . O bloco do produto é então , que iguala . Sabendo que , tem-se que também , e portanto é invertível, , com . Usando a hipótese de indução aplicada a , os elementos diagonais de , que são os elementos diagonais de à excepção de (que já mostrámos ser não nulo) são não nulos.
Reciprocamente, suponha que os elementos diagonais de são não nulos, e portanto que os elementos diagonais de são não nulos. A hipótese de indução garante-nos a invertibilidade de . Basta verificar que é a inversa de .
Para finalizar esta secção, e como motivação, considere a matriz . Esta matriz é invertível, e (verifique!). Este tipo de matrizes denominam-se por ortogonais. Mais claramente, uma matriz ortogonal é uma matriz (quadrada) invertível, e cuja inversa iguala a sua transposta. De forma equivalente, uma matriz invertível diz-se ortogonal se .
Seja uma matriz ortogononal, ou seja, para a qual a igualdade é válida. Pretende-se mostrar que é ortogonal; ou seja, que . Ora .
Sejam matrizes ortogonais. Em particular são matrizes invertíveis, e logo é invertível. Mais,
Impõe-se aqui uma breve referência aos erros de arredondamento quando se recorre a um sistema computacional numérico no cálculo matricial.
Considere a matriz
. A matriz é ortogonal já que
.
Octave
Definamos a matriz no Octave:
> A=[sqrt(2)/2 sqrt(2)/2; -sqrt(2)/2 sqrt(2)] A = 0.70711 0.70711 -0.70711 1.41421Verifique-se se :
> all(all(A*A'==A'*A)) ans = 0A proposição é falsa! Calcule-se, então, :
> A*A'-A'*A ans = 0.0000e+00 -8.5327e-17 -8.5327e-17 0.0000e+00É premente alertar para o facto de erros de arredondamento provocarem afirmações falsas. Teste algo tão simples como
> (sqrt(2))^2==2
A transconjugada de é a matriz . Ou seja, . Esta diz-se hermítica (ou hermitiana) se .
Sejam matrizes complexas de tipo apropriado e . Então
A prova destas afirmações é análoga à que apresentámos para a transposta, e fica ao cuidado do leitor.
Uma matriz unitária é uma matriz (quadrada) invertível, e cuja inversa iguala a sua transconjugada. De forma equivalente, uma matriz invertível diz-se unitária se .
Remetemos o leitor ao que foi referido no que respeitou as matrizes ortogonais para poder elaborar uma prova destas afirmações.